É curioso quando a imprensa e os influenciadores publicam sobre o movimento Slow Food referindo-se como “uma nova iniciativa em defesa do alimento de verdade”. Ótimo que as pessoas estejam tomando ciência de nossa bandeira e se sintam estimuladas a compreender e abraçar os preceitos do movimento. Ele nos ensina que a forma como nos alimentamos tem profunda influência no que nos rodeia – na paisagem, na biodiversidade da terra e nas suas tradições. Em suma, é impossível ignorar as fortes relações entre prato e planeta. Mas preciso alertar que essa “nova causa” tem a ideia de uma jovem adulta, como eu.
Neste mês de dezembro, o movimento Slow Food comemora os 30 anos da assinatura do Manifesto Slow Food, marcando formalmente o nascimento do movimento internacional do Caracol, que até então estava centralizado na Itália. Foi em Paris que delegados de 15 países comprometeram-se a levar a bandeira de um alimento bom, limpo e justo. Três décadas depois, estamos em 160 países e somos um milhão de sócios, voluntários e ativistas.
O Slow Food é uma rede mundial de comunidades locais que trabalha para salvaguardar as tradições alimentares locais e contrabalançar a cultura do fast food. O que foi escrito 30 anos atrás serve perfeitamente para os dias de hoje:
“A verdadeira cultura está em desenvolver o gosto em vez de atrofiá-lo. Que forma melhor para fazê-lo do que através de um intercâmbio internacional de experiências, conhecimentos e projetos? Slow Food garante um futuro melhor. Slow Food é uma idéia que precisa de inúmeros parceiros qualificados que possam contribuir para tornar esse (lento) movimento, em um movimento internacional, tendo o pequeno caracol como seu símbolo”
Manifesto Slow Food
// O Slow Food registrou mais de cinco mil produtos em risco de extinção na Arca do Gosto, contribuindo para que os holofotes da mídia e da política se voltassem para a biodiversidade;
// O Slow Food realizou quase quatro mil hortas na África, facilitando concretamente o acesso ao alimento e à recuperação de práticas agronômicas sustentáveis e variedades locais no continente onde ainda hoje se encontram as maiores injustiças sociais;
// O Slow Food envolveu centenas de milhares de crianças em projetos de educação alimentar e do gosto, incluindo o nosso convívio local, que, nesse ano, construiu uma bela horta orgânica na Associação Abraçaí, em Bento Gonçalves;
// O Slow Food contribuiu para melhorar políticas agrícolas e alimentares em todos os cantos do planeta;
// O Slow Food construiu uma nova narrativa do alimento e sua produção;
// O Slow Food combateu e continua combatendo a horrível tendência produzida pela combinação letal da especulação financeira com a globalização selvagem, que transformou o ato vital e sagrado da nutrição em um fato de puro consumo, sem respeito pela nossa saúde, pelo meio ambiente, pelos direitos de quem produz o nosso alimento e pelo prazer que deveria ser fisiologicamente ligado ao ato de se alimentar.
O Slow Food fez tudo isso, mas o Slow Food somos eu e você – todos que, sendo ou não associados, trazemos para a nossa vida um novo sentido alimentar. A história da humanidade está intimamente ligada à história dos alimentos e as sociedades se desenvolveram no entorno de técnicas, ingredientes e saberes. Nos tempos modernos, fomos soterrados pela indústria da “alimentação” e levados a um modo de vida cada vez mais longe da comida de verdade – lembrando que “somos o que comemos”.
Agora é tempo de mudar! O Slow Food espera que 2020 seja o início de uma década em que todos os seres humanos “sejam chamados a realizar a grande mudança necessária para salvar a nossa espécie da extinção” – palavras do fundador do Slow Food, o jornalista Carlo Petrini – cujo discurso já tive a honra de ouvir pessoalmente. Eu convido você a pensar um minuto sobre qual sistema alimentar está apoiando com as suas escolhas diárias. Eu escolho apoiar a incansável agricultura familiar da nossa região; o empreendedorismo das pequenas agroindústrias e os bravos chefs de cozinha locais com sua alquimia culinária!